História de Guaratinguetá


Desde os primórdios a grande quantidade de garças brancas marcava a paisagem ao longo do Rio Paraíba do Sul. Os índios que ali viviam denominaram esta região de Guaratinguetá, que em Tupi significa reunião de garças brancas ou muitas garças brancas (“guará” garça, “tinga” branca, “eta” muito).

No final do século XVI os primeiros portugueses que passavam por ali acompanhados pelos índios, buscavam ouro e pedras preciosas e seguiam para as regiões além da Serra da Mantiqueira, no que hoje é o estado de Minas Gerais. Mas somente em 1628 houve a fixação dos novos habitantes que aconteceu com a doação a Jacques Felix e seus filhos, de datas de terras nos sertões do Rio Paraíba do Sul.

Conforme consta do primeiro Livro-Tombo da Catedral de Santo Antônio de Guaratinguetá: “por volta de 1630, no local da atual Matriz, foi erguida uma capelinha feita de pau a pique e coberta de sapé, sob a invocação de Santo Antônio, cuja festa se comemora dia 13 de junho. A invocação do santo fixa, assim, essa data, que está gravada à porta da Matriz, como o início do povoado de Guaratinguetá, pois era uso do colonizador português batizar o local com o nome do santo do dia.”

Em 13 de fevereiro de 1651, com a abertura da “estrada”, o povoado que se desenvolveu em torno da capela é elevado a Vila por requerimento do então capitão Domingos Luiz Leme, proprietário de uma sesmaria (lote de terra). O documento foi levado ao capitão-mor Dionísio da Costa, que aprovou a licença para a criação da vila de Santo Antônio de Guaratinguetá, com a eleição da primeira Câmara Municipal.

Guaratinguetá destaca-se como uma das principais vilas da Capitania no Vale do Paraíba, no século XVIII, por sua privilegiada localização que reserva à cidade, além dos períodos do ouro e do açúcar, fatos de especial significância religiosa. Nesta mesma época a vila recebeu uma Casa de Quintos de Ouro, que depois passou para Paraty/RJ.

Em 1717, o conde de Assumar visitou a pequena vila de Santo Antônio de Guaratinguetá, e uma pescaria para produzir um farto jantar para o visitante resultou na descoberta de uma imagem enegrecida de Nossa Senhora da Conceição (hoje padroeira do Brasil), encontrada por pescadores nas águas do Rio Paraíba, dando origem à cidade de Aparecida.

Já em 1739, nasce aquele que se tornaria o primeiro santo brasileiro beatificado pelo Vaticano: Frei Antônio de Sant’Anna Galvão, construtor do Mosteiro da Luz em São Paulo, hoje considerado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.

Frei Galvão na sua beatificação em 25 de outubro de 1998 recebeu do Papa João Paulo II os títulos de “Patrono da Construção Civil do Brasil” e “Homem da Paz e da Caridade”.

No dia 25 de outubro é comemorado o “Dia do Santo Frei Galvão”, feriado nacional. E em 11 de maio de 2007 foi canonizado pelo Papa Bento XVI. Em 23 de dezembro de 1822, morria Frei Galvão, com 83 anos e havendo recebido todos os sacramentos, está sepultado na Capela do Mosteiro da Luz no estado de São Paulo.

No ano de 1757, foi fundada a Irmandade de São Benedito junto à Capela de São Gonçalo e a partir daí inicia-se a Festa em louvor a este santo, que com a passar dos anos teve uma grande expansão social, tornando-se um evento importante no calendário da religiosidade brasileira.

No século XIX Guaratinguetá era marcada pelas casas pequenas, com telhados largos seguindo a influência portuguesa. As ruas eram estreitas e raramente possuíam calçamento. O comércio era variado, porém fechava-se nos dias úteis, isso se dava pelo fato dos donos das vendas que moravam em chácaras ou dispersos pela vizinhança e procuravam o centro urbano nos finais de semana para vender seus produtos.

A vila recebeu inúmeros viajantes estrangeiros que registraram em seus livros passagens e documentos sobre a pequena vila que prosperava. O   botânico e antropólogo Karl Friedrich Philipp von Martius integrou a missão científica enviada ao Brasil em 1817, e durante sua passagem por Guaratinguetá relatou que o açúcar e a aguardente produzidos na região já haviam dado à pequena vila certo poder econômico e reconhecimento.

Outro visitante ilustre que passou pela pequena vila foi o então Príncipe do Brasil Dom Pedro, que visitou Guaratinguetá em 19 de agosto de 1822, durante sua caminhada rumo à Independência do país. Não faltaram visitantes ilustres nas terras guaratinguetaenses, nos anos de 1868 e 1884 a Família Real Brasileira hospedou-se na casa do Visconde de Guaratinguetá. Nestas ocasiões a princesa Isabel e o conde d’Eu foram recebidos com bailes, mesas com doces requintados e saraus.

Em 7 de julho de 1848, nasce Francisco de Paula Rodrigues Alves, futuro Conselheiro e Presidente da República (eleito duas vezes). O ano 1885 marca o auge da produção cafeeira e 1877 torna-se marco divisor da história com a chegada da Estrada de Ferro que liga São Paulo ao Rio de Janeiro.

Em 1844, Guaratinguetá é elevada à categoria de cidade, sendo alçada à comarca em 1852. Ainda no século XIX, Guaratinguetá registra seu pioneirismo regional na imprensa com o jornal “O Mosaico” (de 1858), o desenvolvimento educacional, os clubes, a Banda, o “Theatro” e o Mercado. Nesse período instalam-se a Escola Complementar, o Ginásio Nogueira da Gama, a Escola de Comércio e a Escola de Pharmácia.

O século XX, que presencia o esgotamento das terras, enxerga também os novos focos econômicos: pecuária extensiva, industrialização e fomento comercial. Emerge uma “nova” comunidade, com a Escola de Especialistas de Aeronáutica, depois o campus da Unesp – Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, o Senac e, mais recentemente, a FATEC – Faculdade de Tecnologia.

O desenvolvimento de Guaratinguetá tem no Turismo uma de suas âncoras e, no século XXI, a religiosidade já manifestada na Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, com sua água abençoada atraindo peregrinações, ganha o novo impulso da devoção a Frei Galvão, além dos templos religiosos que reúnem arquitetura, arte, beleza e fé desde o século XVIII.

O Turismo também encontra no meio rural seus mais propícios meios, tanto pela exuberância da beleza das encostas da Mantiqueira quanto pela vida rural que se expressa no caminho para o mar. No perímetro urbano arquitetura e cultura, fundindo o passado e o presente, são os marcos que expressam a tradição e suas festas anuais que reverenciam sua própria história.


Fonte: Pesquisa histórica Museu Frei Galvão

MAIA,Theresa ;MAIA,Tom.Conto,Canto e Encanto com a minha História: Guaratinguetá ontem e hoje. São Paulo, 2010.

Texto: Bruna de Castro Maia


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